segunda-feira, 5 de abril de 2010

COMO OS TANTÂS NA FLORESTA

Frente a necessidade do trabalho com a Diversidade penso ser de grande importância a leitura do texto abaixo para podermos iniciar a construção de pensamento ou conhecimento sobre a Diversidade


Como os tantãs na floresta

Reflexões sobre o ensino de História da África e dos africanos no Brasil

Por Mônica Lima

Em 9 de janeiro de 2003 foi aprovada a Lei nº 10.639, que tornou obrigató­rio o ensino de História e cultura afro-brasileira, bem como de História da África e dos africanos, nos estabelecimentos de ensino públicos e privados no Brasil. Esses conteúdos iriam incluir, ainda segundo o texto da lei, a luta dos negros no nosso país, a cultura negra brasileira e a contribuição dos ne­gros na formação da sociedade nacional, como subtemas que passariam a ser necessários aos estudos de História do Brasil. Essa lei alterou o artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional e está em vigor.
Podemos procurar olhar com um certo distanciamento essa medida e nos perguntar: por que a necessidade de uma lei para fazer valer a presença de um conteúdo tão evidentemente fundamental na História geral, e em espe­cial na História de grupos humanos que participaram diretamente da for­mação do nosso país?
Desde o início da construção do conhecimento sobre as sociedades huma­nas sabe-se que elaborar e dar sentido à História de um povo é dar a esse povo instrumentos para a formação de sua própria identidade, com a ma­téria-prima desta, que é a sua memória social.
A inclusão deturpada ou exclusão deliberada de algum aspecto dessa His­tória pode implicar a criação de uma identidade ou de uma auto-imagem distinta da realidade daquele grupo humano, distorcida ou definida segun­do elementos ideológicos distantes do real. A História do Brasil, ou melhor dizendo, da sociedade brasileira, é um exemplo claro: durante muito tempo a historiografia ocultou e ignorou a contribuição das sociedades e culturas africanas para a nossa formação social.
A raiz desse ocultamento estava na ignorância e no preconceito sobre a vida social e a história desses grupos humanos e, sobretudo, na necessida­de de domínio sobre eles, com objetivos de escravizá-los ou colonizá-los. Essa raiz, portanto, se situava na própria história das relações estabelecidas com os povos africanos por parte dos grupos dominantes das sociedades, nas quais nossos primeiros historiadores se espelharam para construírem os saberes oficiais sobre o Brasil.

HISTÓRIA DOS AFRICANOS NO BRASIL E IDENTIDADE BRASILEIRA

A negação dessa História esteve sempre associada nitidamente a formas de controle social e dominação ideológica, além do interesse na construção de uma identidade brasileira despida de seu conteúdo racial, dentro do cha­mado “desejo de branqueamento” de nossa sociedade. Característico da se­gunda metade do século XIX, esse desejo ainda vigora dentro de alguns se­tores sociais mais retrógrados, embora a luta por mudanças no campo do ensino da História tenha criado embates ao longo do século XX.
A dificuldade em lidar com o tema parecia tanta que mesmo setores pro­gressistas se recusaram durante certo tempo a fazer desta pergunta – por que a ausência de História da África e dos africanos no Brasil nos conteú­dos escolares? – uma questão. Muitos acreditaram que a luta dos africanos, na África e no Brasil, deveria ser estudada dentro da categoria “luta dos do­minados, dos oprimidos” ou qualquer outro título que queiramos dar à história dos excluídos.
Portanto, não mereceria uma atenção especial em si – afinal, esse coletivo tão longamente ignorado pelos livros escolares não se definiria por outra coisa senão pelo lugar social que ocupava, ou seja, como trabalhador explorado. Assim, ao serem resgatadas as grandes massas para a História, entrariam, junto com todos, gloriosamente colocados em sua condição de protagonistas, os africanos e os afro-descendentes no Brasil. Estariam em seu devido lugar?
Nos livros didáticos de História do Brasil, de Geografia e de Integração So­cial, atualizados por essa visão que se pretendia progressista, surgiram mui­tos escravos dando duro nas plantations, vítimas da exploração orientada por interesses vinculados ao capitalismo em expansão, ou fugindo para os qui­lombos em alguns fugazes momentos de rebeldia – rebeldia esta quase im­possível, dada a “enorme” capacidade de controle da chibata dos senhores.
E, finalmente, no século XIX, voltariam a ser dignos de registro ao serem li­bertados pelos novos agentes do sistema econômico dominante, interessados nesse momento em transformá-los em consumidores. No século XX, se tor­nariam partes da massa trabalhadora, desaparecendo como tema específico e só voltando à cena em alguns poucos trabalhos em que se mencionava bre­vemente a cultura popular – nesses casos, contribuições como a capoeira e o samba apareciam vinculadas a esses grupos.
E quanto à História da África, como tema da História mundial, ela se vin­cularia ao período de acumulação capitalista, ou seja, apareceria como o lugar de onde se retiravam os escravos e, mais tarde, como local da expan­são neocolonial, a partir de fins do século XIX. E era só. Os africanos, víti­mas da cobiça de estrangeiros, se tornaram objetos da rapina, sujeitados à exploração, à dominação, à destruição, à escravidão, à opressão. E quando eram resgatados para a História como sujeitos, ainda que em andrajos, lu­tavam, mas perdiam sempre, gritavam, mas lhes calavam sempre a voz. E, afinal, sua chance de ocupar outro lugar na História parecia ser a de desa­parecer em sua especificidade e surgir como parte da grande massa prole­tária que um dia tomaria o poder. Seria o suficiente?
A realidade mostrou que não. Os africanos pareciam continuar “coisificados” ou quase invisíveis. Mesmo quando eram louvados, como Zumbi de Palmares, ainda assim representavam um breve parágrafo na História. E sobre a África, então, tudo ainda era longe, longe mesmo, do outro lado de um imenso mar. Se refletirmos sobre os destinatários principais do processo de ensino-apren­dizagem, os estudantes, o que se continuava a fazer era dificultar a construção da auto-estima, por trazer uma imagem de nossos antepassados africanos sem­pre oprimidos, explorados e, finalmente, sempre derrotados – mesmo quando rebeldes e inconformados. Quem gostaria de se identificar com essa imagem? E, além do mais, tratava-se de uma falsa imagem, se não em seu todo, ao me­ nos em parte. A historiografia recente trouxe dados para rever essa visão. Resta fazê-la chegar às salas de aula – de muitas universidades e da Educação Básica.
Zumbi dos Palmares (1655? - 1695)
Líder mais famoso da confederação de quilombos de Palmares, que se estendia pelos territórios atuais de Alagoas e Pernambuco. Assassinado em 20 de novembro de 1695. Em sua homenagem, a data de sua morte celebra o Dia Nacional da Consciência Negra.
Fonte: http:/www.acordacultura. org.br/herois

PEDRAS NO MEIO DO CAMINHO

Podemos observar que até hoje existem, nos currículos dos cursos de História das universidades brasileiras, poucas disciplinas específicas sobre a África, as­sim como praticamente se ignora o tema nos estudos de História Geral do En­sino Fundamental e Médio. Ao tornar obrigatória sua inclusão na Educação Básica, estaremos frente a uma imensa dificuldade: que História será essa a ser apresentada, se a maioria dos professores em sala não teve contato com ela?
As visões mais comuns sobre a História africana ou se construíram com base em preconceitos etnocêntricos, apresentando a África como lugar atrasado, in­culto, selvagem, terra da barbárie, ou supervalorizando o seu papel de vítima – do tráfico, do capitalismo, do neocolonialismo e assim por diante. Quanto ao primeiro caso, muito já se escreveu e se criticou. É certo, nunca o suficiente, pois o preconceito subsiste de diferentes formas, disfarçado em novas roupa­gens. Portanto, é importante desnudá-lo e combatê-lo, sempre que aparecer.
No segundo caso, há que se lembrar que a posição de vítima carrega em si um forte conteúdo de passividade, de impotência e de incapacidade de re­sistência, de atuação e de intervenção na História. Trata-se, pois, de se acos­tumar a ver os africanos sempre tratados como objetos e não como sujeitos da História. E isso compromete a compreensão de suas trajetórias.
O fato de populações inteiras terem vivido um longo processo de espo­liação por parte de agentes externos, compactuados com agentes inter­nos, não pode ser negado. Omitir suas implicações sociais dentro da pró­pria África acaba por fortalecer uma idéia de que os africanos foram todo o tempo vítimas de um destino cruel, e não sujeitos históricos, envolvidos num processo gerador e aprofundador de desigualdade


UNA, MÚLTIPLAS
É muito difícil falar da África no singular, ou de uma África no Brasil. São muitas as sociedades, diversas em seu desenvolvimento, em sua origem, em sua cultura. Muitas cores na África, muitas Áfricas no Brasil...
Sabe-se que a própria idéia de “africano” não existia entre os escravos e li­bertos brasileiros trazidos cativos do continente, antes do século XIX. Não que inexistissem identidades entre eles antes – ao contrário, havia, e foram descobertas, criadas e reforçadas. Mas a idéia de uma África como terra de todos, e de uma identidade africana, foi surgindo articulada às formas de reinvenção de identidades, característica dos oitocentos, originando-se nesse momento específico da relação com a sociedade dominante.
Da mesma forma, sabemos que, na luta pela libertação do jugo colonial na África do século XX, foi fundamental a criação de vertentes ideológicas que ressaltassem os aspectos comuns, como as idéias de negritude, de pan-afri­canismo, entre outras. Todas essas idéias tiveram um papel na História: o de negar os discursos dos colonizadores e de forjar integrações necessárias. Mas não eram verdades absolutas. Aqueles que as tomaram como verdades sem matizes logo se sentiram derrotados quando viram que pertencer ao conti­nente como nativo não os fazia necessariamente irmãos uns dos outros.
No entanto, não há que se perder de vista os aspectos comuns, dentro de uma vi­são de totalidade, abrangendo amplas regiões da África. Podemos falar, sim, de grandes aspectos, de histórias compartilhadas, de longos tempos de interações e trocas. Regionalmente, em grandes áreas geoculturais e lingüísticas, isso foi e é perceptível. Assim como no Brasil, o contato entre povos de regiões próximas criou vocabulários e comunicação próprios, contribuindo para produzir novas estratégias de resistência. Somente a pesquisa histórica que se detenha sobre as­pectos desse cotidiano, do tecido aparentemente difuso da vida dessas pessoas, pode trazer à luz a presença dessas Áfricas no Brasil. Hoje se caminha nessa dire­ção, há boas pesquisas em curso, mas devemos ainda fazer tais notícias chegarem mais às salas das universidades e às salas de aula da Educação Básica.
Para descobrir essas Áfricas, também há que se despertar a curiosidade, agu­çar o interesse, estimular a admiração. Portanto, é preciso trazê-las para den­
tro de espaços culturais e educativos. Ler, sim, mas também escutar, ver, as­sistir, participar e perceber o quanto as trazemos dentro de nós. E assim des­pertarmos o orgulho da nossa africanidade. E revermos nossos heróis famo­sos e desconhecidos – tudo isso por Zumbi de Palmares, e por muitos mais Antônios Minas e Joaquins Angolas, por Manoel Congo, e por tantas Marias Cabindas e Joanas Crioulas, por Luiza Mahin, por André Rebouças e por João Cândido. E tantos outros, muitos. Devemos celebrá-los, sim. Não como um retorno a uma história de nomes e datas, mas para criar referências.
Esses indivíduos, feitos cativos, poderiam ser identificados e tratados como mercadorias. Mas nunca se transformavam em mercadorias. Eram e sem­pre seriam pessoas, seres humanos, com sua força vital – seu axé. Com ca­pacidade de resistir, de buscar maneiras de sobreviver, como também de procurar força interna para seguir em frente, para, na dura realidade, forjar um outro destino. Foram feitos escravos, sim, no sentido histórico e con­ceitual do termo escravo. Mas suas mentes, os saberes que possuíam, sua memória não caíram no cativeiro.
Devemos relembrar que a presença dos africanos no nosso país, trazidos para cá contra a sua vontade, separados de sua gente e postos longe de sua terra, é um dado histórico carregado de dramas e de dor, sem dúvida. Mas o impulso de vida, o brilho de seu espírito, a história que trouxeram com eles, sua cul­tura, seus saberes e conhecimentos técnicos também fizeram deles uma for­ça de caráter civilizatório. Os africanos ensinaram aos habitantes do territó­rio brasileiro e das Américas escravistas muitas coisas fundamentais para a sobrevivência e o crescimento do chamado “Novo Mundo”. E realizaram ou­tras tantas criações, a partir de sua capacidade de aprendizado. Foram artífi­ces, construtores, cirurgiões-barbeiros, cozinheiras. Foram agricultores que trouxeram plantas novas, que serviram e servem como alimento e remédio, e também introduziram diferentes técnicas de cultivo.
Entre esses escravos ha­via artistas e músicos com novos instrumentos, ritmos e movimentos que en­cheram nossa terra de cores e sons – que hoje são tão nossos, tão brasileiros. E suas línguas modificaram o português, fizeram dele a língua nacional, levan­do-o pelo território, introduzindo palavras e tonalidades. E também trouxe­ram novas maneiras de se comportar nas relações familiares, de se relacionar com o sagrado, novos modos de celebrar e de se ligar aos antepassados, ou seja, posturas diante da vida e da morte. Todos esses conteúdos permearam a sociedade brasileira, transformaram-se e a transformaram. Por isso, hoje to­dos somos herdeiros dessas culturas.

RECONHECER, RECONHECER-SE...

Não há receitas prontas, não existe um “como fazer”, e por isso percebe-se a necessidade de muitos espaços de discussão e troca intelectual – e não apenas entre os reconhecidos como “intelectuais”, mas com os movimen­tos sociais. Não podemos, a despeito da exigência da lei, sair repassando nas nossas salas de aula informações equivocadas, ou tratar o tema de uma maneira folclorizada e idealizada. Esse é um grande temor: repetir modelos para fazer com que esses conteúdos curriculares fiquem parecidos com os que já trabalhávamos ao tratarmos da História e das contribuições cultu­rais comumente estudadas é um caminho fácil e perigosíssimo. São temas diferentes e sua abordagem necessariamente deve ser diferenciada.
Nossos alunos certamente terão muito a dizer, mas devemos ter um imen­so cuidado com o senso comum, que pode surgir tanto para desvalorizar como para criar mitos – os quais, ao se desfazerem, redobrarão o peso da desilusão e do desgaste da auto-estima. Trata-se de um equilíbrio delicado entre o resgate de uma História que deverá servir para elevar o orgulho de pertencer a ela e a valorização de posturas estreitas que tendem a criar es­quemas explicativos maniqueístas.
Enfim, fica sempre a questão central: como e o que introduzir a respeito desses temas (História da África, dos africanos no Brasil) em nossos currí­culos escolares?
Em primeiro lugar, é fundamental formar-se, atualizar-se nos temas, e não partir do pouco que se sabe para ocupar um lugar que nunca esteve ocupa­do. Temos a responsabilidade de tratar com muito profissionalismo esses conteúdos. Devemos estudar, procurar leituras específicas e, sempre que possível, capacitar-nos em cursos e em discussões acadêmicas.
Nossas pre­cárias condições de trabalho e de vida não podem justificar uma ausência de esforço nesse sentido – estamos falando da reescritura de uma História que nos foi negada, estamos lidando com a base de uma identidade que está para ser reconstruída. O que está em jogo é mais do que nossa competência – é o nosso compromisso.

UMA NOVA DIMENSÃO DA NOSSA HISTÓRIA

Para os professores de Educação Básica, algumas sugestões de caráter geral. Na Educação Infantil, tempo dos primeiros passos na vida social, seria im­portante semear atitudes positivas e, pela via do lúdico e do afeto, estimular o contato, a admiração, o encanto pela estética e pelo imaginário africano e afro-descendente. Brincadeiras e brinquedos, cantigas e muita “contação” de histórias que falem, lembrem e se refiram ao mundo negro servirão como meios para romper ou evitar que se construam barreiras e preconceitos.
Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, podem-se introduzir temas da cultura africana e afro-brasileira também através de lendas, contos, can­tigas, brincadeiras, mas já inserindo mais aspectos de conteúdo histórico. Existem bons livros de literatura infantil para tomar como referência. E, nas aulas de Integração Social, falar da presença dos africanos na História do Brasil para além da reação à escravidão: levá-los a ver marcas dessa pre­sença viva nas músicas, nas festas, no vocabulário, nos hábitos alimenta­res. Os africanos, além de mão-de-obra, eram seres que produziam cultu­ra – mas não basta dizer, isso tem de ser algo vivido para começar a abalar as velhas estruturas dos preconceitos, as quais se alimentam da ignorância. Vamos festejar as Áfricas que habitam em nós !
No segundo segmento do Ensino Fundamental, já podemos trabalhar com con­teúdos mais precisos, falar da Pré-História – questionando o termo, pois não é a escrita que cria a História – como o tempo do processo de hominização, que se deu na África antes que em outros lugares do planeta. Explicar os porquês, falar dos primeiros homo sapiens africanos que saíram a povoar o mundo... Não dei­xar passar todo o esplendor e a pompa do Antigo Egito – tema que fascina nessa idade –, lembrando sempre que esse país fica na África, algo que parece tão ób­vio, mas que acaba sendo esquecido.
Certamente o Egito era também lugar de desigualdades – quem disse que os africanos não as viveram em sua terra? Pro­curar lembrar os grandes reinos do Sudão Ocidental, que durante a Idade Mé­dia ergueram cidades, com universidades, mercados de livros, contatos com o
Oriente e a Europa – e encantaram tantos viajantes e despertaram a cobiça de outros povos com suas minas de ouro.
E, certamente, ao estudar o tráfico de es­cravos, não se limitar a falar do intercâmbio de pessoas por riquezas, mas tam­bém das riquezas transportadas por essas pessoas dentro de si, no maior proces­so de migração forçada da História da humanidade, que levou a uma verdadeira diáspora africana pelo Novo Mundo. Levá-los a perceber, a sentir e a ver que os africanos contribuíram com sua cultura, seus conhecimentos, suas línguas para a produção do que veio a ser a sociedade brasileira – ou seja, trouxeram-nos os bens imateriais de sua civilização, além da força e beleza de seus corpos.
No Ensino Médio, ao retomar alguns conteúdos, é adequado debater as grandes visões, situar o surgimento do racismo como projeto científico e político, utilizando estratégias que permitam aos alunos construir e deses­truturar idéias através de pesquisas, júris simulados, dramatizações.
E sem­pre assinalar a “fratura exposta” da desigualdade racial brasileira. Nunca é demais repetir: nossa pobreza tem cor, nossa exclusão tem cor. Esses dados, porém, não devem ser naturalizados. Assim como eles foram fruto de uma História, fazer uma outra História pode mudar o quadro.
Outro ponto fundamental de caráter geral no ensino da História da África e dos africanos para estudantes brasileiros é pensar formas de ampliar sua di­mensão, dando destaque aos aspectos da afro-americanidade e introduzindo elementos que aproximam e diferenciam essa parte da nossa História da His­tória dos afro-descendentes em todo o continente. Sabemos que temos uma História comum não apenas entre África e Brasil, como entre os africanos e seus descendentes nascidos no Novo Mundo, na América como um todo. E não apenas essa História nos une, como também as reflexões sobre os proje­tos de formação das identidades nacionais no continente.
Sabemos que nossa memória constrói nossas percepções sobre nós mes­mos e sobre os outros – voltando a dizer: constrói nossa identidade. Cabe a nós multiplicar iniciativas como esta e fazer com que haja desdobramentos concretos, e que se estimule a pesquisa, a formação, a produção sobre esses temas. Trata-se de resgatar a História da África e, de uma certa maneira, africanizar a História do Brasil. Que a nossa História possa soar profunda­mente, como o som dos tantãs na floresta, espalhando notícias, celebrando os vivos, os mortos e os que virão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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